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Este é um espaço dedicado à exposição e divulgação de singelos poemas originários de um personagem fictício francês, inebriado de sonhos e embriagado com devaneios. O sobrenome de tal personagem é um trocadilho com a palavra "fantaisie" que significa devaneio em francês. Jacques é um aedo que teima em devanear por entre os não-lugares desse mundo, por sobre os valores há muito esquecidos e os sonhos que se encontram aturdidos nas malhas sócio-históricas nas quais nos encontramos. É um poeta de um mundo moderno que persiste em sua idealização idílica e fantasiosa, ora melancólica ora radiosa, sobre as intempéries do seu alucinante coração. Sem mais, espero que gostem, comentem, reclamem, sugiram e até corrijam alguns impropérios desse jovem velho cantor. Que o ar fantasiante de Jacques Fant'Aisier se faça presente a todos e que acima de tudo reine a esperança por entre a correria e pragmatismo do nosso real mundo humano. Abraços a todos os visitantes!!!

20 de set. de 2012

Hiperatividade e Psicomotricidade




Hiperatividade e Psicomotricidade

Corriqueiramente vemos algumas pessoas falarem “meu filho é hiperativo”, “esse menino é ‘hiperativo”, “leve-o ao neuropediatra para saber se é hiperativo e precisa de medicação”. A medicação mais conhecida para tal mal é o Cloridrato de Metilfenidato, um estimulante do sistema nervoso central, o mais vendido comercialmente possui o nome de Ritalina.
Mas, vem cá, se a pessoa é hiperativa porque vai tomar um estimulante do sistema nervoso central? Vou postar aqui informações técnicas, indicações e precauções presentes na bula e discutiremos melhor o caso em questão.
“Informação técnica – RITALINA - Farmacodinâmica é um estimulante do sistema nervoso central. Seu mecanismo de ação no homem ainda não foi completamente elucidado, mas presumivelmente ele exerce seu efeito estimulante ativando o sistema de excitação do tronco cerebral e o córtex. O mecanismo pelo qual ele produz seus efeitos psíquicos e comportamentais em crianças não está claramente estabelecido, nem há evidência conclusiva que demonstre como esses efeitos se relacionam com a condição do sistema nervoso central.”. ¹
Segundo a bula do medicamento um efeito positivo pode ocorrer, mas não se sabe as causas para tal. Bem, sabe-se que funciona então será prescrito, mas qual a interação entre estimulação química numa pessoa disfuncionalmente estimulada ainda não se sabe. É no mínimo estranho pensar que uma pessoa hiperativa, que mantem-se em atividade constante, possui dificuldades de conter seus impulsos, de focar sua atenção, de relaxar e até mesmo dormir possa tomar um estimulante e minimizar seus efeitos. A efetividade por si só pode causar complicações, mas vamos continuar observando. Quais os riscos e precauções  prescritos por esse medicamento?
Pode parece que sou contra o uso dos remédios ou contra o exercício da psicofarmacologia, mas o que estou tentando evidenciar e que às vezes ingerimos medicamentos sem nos importarmos qual a sua ação, seus riscos ou sua comprovação científica de ação. O Cloridrato de Metilfenidato, como vimos nos texto retirado da bula acima, comprovadamente tem efeito estimulante no sistema nervoso central, particularmente o tronco cerebral e o córtex cerebral. Será que a única via de tratamento a ser ministrada nos casos de TDAH-Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade?
“Indicações – RITALINA Déficit de atenção e hiperatividade (DAH). O DAH era anteriormente conhecido como distúrbio de déficit de atenção ou disfunção cerebral mínima em crianças. Outros termos utilizados para descrever essa sídrome comportamental incluíam: síndrome da criança hipercinética, lesão cerebral mínima, disfunção cerebral mínima, disfunção cerebral menor e síndrome psicorgânica de crianças. RITALINA é indicado como parte de um programa de tratamento amplo que tipicamente inclui medidas psicológicas, educacionais e sociais para estabilizar as crianças com uma síndrome comportamental caracterizada por distractibilidade moderada a grave, déficit de atenção, hiperatividade, labilidade emocional e impulsividade. O diagnóstico não deve ser definitivo, se tais sintomas são apenas de origem recente. Os sinais neurológicos não-localizáveis (fracos), a deficiência de aprendizado e EEG anormal podem ou não estar presentes e um diagnóstico de disfunção do sistema nervoso central pode ou não ser assegurado.” ²
Nas indicações vemos uma preocupação de aliar os tratamentos farmacológicos, psicológicos, educacionais e sociais. Que ótimo, mas vemos essa discussão interativa entre os saberes acontecer ou são só mais formulações teóricas  de um saber especializado? Quem faz esse diálogo entre os saberes?
Edgar Morin (2001)³ aponta para a necessidade de buscar uma interação interdisciplinar e transdisciplinar. Mas será que na prática cotidiana vemos uma busca efetiva de tal diálogo ou briga por mercado dos saberes especialistas.
Com numa história antiga hindu, “Sábios cegos e o Elefante”4, parecemos sábios cegos tateando o elefante e achando que nosso conhecimento sobre a tromba, a presa ou a pata bastam para explicar o elefante como um todo. Enquanto isso, enquanto brigamos sobre quem detém a verdade sobre a hiperatividade, uma criança vai se tornando alvo de variadas intervenções inclusive sendo alvo de um remédio que pode causar dependência e tolerância e age obscuramente sobre o TDAH.
Que repercussões tem isso para a criança em plena maturação orgânica, crescimento, aumento de peso, altura e volume e por fim em seu desenvolvimento neuropsicomotor? De onde vem os termos disfunção cerebral mínima, síndrome da criança hipercinética, lesão cerebral mínima? O que significam?
Brevemente o que posso dizer sobre essas terminologias anglo-saxãs acerca do fenômeno da síndrome hipercinética é que elas nascem de uma dedução neurológica obscura como igualmente é obscura a ação do medicamento em sua interação com a doença.
Pensava-se que a criança movia de forma excessiva, impulsiva e desatenta (sintomas da hiperatividade), por conta de uma lesão cerebral tão pequena que era impossível detectar por via de exames laboratoriais da época, mas que no futuro detectar-se-iam lesões mínimas que explicassem o fenômeno psicomotor. Uma lesão de ordem cerebral seria a causa do transtorno psicomotor. Uma lesão que existe mas não pode ser comprovada? (estranho né? No fim do arco-íris há um pote de ouro, com certeza!).
O termo disfunção veio da modernização do mesmo pensamento de substrato orgânico dos autores anglo-saxões acerca do problema da hiperatividade. O sujeito seria hiperativo por conta de um substrato orgânico. Como a lesão não era possível diagnosticar o termo foi modificado para disfunção cerebral, pois se trataria de uma disfunção, uma desordem de uma das funções neurológicas, igualmente qual das funções ou como se processa a tal disfunção não foi possível diagnosticar. Por fim o termo mais moderno é o TDAH, que está englobado nos transtornos Hipercinéticos no CID-10:

F90 Transtornos hipercinéticos
Grupo de transtornos caracterizados por início precoce (habitualmente durante os cinco primeiros anos de vida), falta de perseverança nas atividades que exigem um envolvimento cognitivo, e uma tendência a passar de uma atividade a outra sem acabar nenhuma, associadas a uma atividade global desorganizada, incoordenada e excessiva. Os transtornos podem se acompanhar de outras anomalias. As crianças hipercinéticas são frequentemente imprudentes e impulsivas, sujeitas a acidentes e incorrem em problemas disciplinares mais por infrações não premeditadas de regras que por desafio deliberado. Suas relações com os adultos são frequentemente marcadas por uma ausência de inibição social, com falta de cautela e reserva normais. São impopulares com as outras crianças e podem se tornar isoladas socialmente. Estes transtornos se acompanham frequentemente de um déficit cognitivo e de um retardo específico do desenvolvimento da motricidade e da linguagem. As complicações secundárias incluem um comportamento dissocial e uma perda de auto-estima5.

As precauções descritas na bula6 especificas do TDAH são: acerca de seu uso não universal sobre todos os casos de TDAH, não é indicado para reações de estresse agudo, pode numa estatística mínima causar um leve aumento de crises epilépticas, pode causar um leve retardo no crescimento e uma moderada redução no peso, não há dados de segurança no uso contínuo do medicamento e sua retirada brusca pode favorecer o surgimento de sintomas depressivos e de sintomas hiperativos.
A psicomotricidade, que possui outra forma de analisar e tratar o problema que não a via medicamentosa, nasce no século XIX, com o avanço da neurofisiologia quando foram constatadas diferentes disfunções graves sem haja uma correlação com uma lesão no sistema nervoso central. “A figura de Dupré é de fundamental importância para o âmbito psicomotor, já que é ele quem afirma a independência da debilidade motora (antecedente do sintoma psicomotor) de um possível correlato orgânico”. (Levin, 2000, pg.24)7.
A Instabilidade Psicomotora é um dos transtornos psicomotores que possui sintomatologia idêntica ao TDAH, mas que possui formar abordar e trabalhar totalmente distinta da farmacológica. Esse transtorno psicomotor é desse modo descrito por Levin (2000), no livro A Clínica Psicomotora:
“Na instabilidade psicomotora encontramos determinadas características clinicas, como por exemplo a criança que apresenta descontinuidade nas brincadeiras e em toda a sua produção corporal, e tem dificuldade em inibir seus movimentos, o que provoca, em geral, um grande desdobramento corporal, expansivo, explosivo e agressivo.
Essas crianças possuem uma grande necessidade de mover-se, custam a encontrar um lugar no qual ficar quietas ou relaxar, e suas posturas e atitudes mudam constantemente dando a imagem de inquietação e verdadeira instabilidade corpórea.” (Levin, 2000, pg. 158)8.
Para tratar a instabilidade psicomotora, pela via da clínica psicomotora em transferência (terceiro corte epistemológico da Psicomotricidade), focamos o trabalho no sujeito que põe seu corpo em movimento e expressa suas dificuldades da forma supracitadas. E, como tal, já que o foco é o sujeito que sofre e expressa em seu corpo suas potencialidades e dificuldades, a prática tem como o eixo a relação transferencial entre o psicomotricista e a criança que padece com a instabilidade psicomotora, a história de vida do paciente, o que é falado sobre ele pelos pais e demais cuidadores, como ele se expressa no ambiente escolar.
O clínico psicomotor visa a expressão dos aspectos saudáveis e criativos do paciente ao invés do foco na doença e sua possível remissão e principalmente, como esse sujeito constitui seu próprio saber acerca de si e do que padece e como ele se expressa ao por seu corpo em movimento nas cenas simbólicas construídas ao longo da prática clínica, que se utiliza do viés do brincar espontâneo realizado em pleno laço transferencial.
Assim como a medicação é uma forma de tratamento eficaz a prática da clínica psicomotora em transferência também se mostra eficaz ao buscar reestabelecer a imagem corporal e favorecer um desenvolvimento saudável psicomotor do pequeno paciente que sofre de transtornos psicomotores, dentre eles a instabilidade psicomotora
Há muito que se pesquisar e descobrir acerca da complexidade do fenômeno da criança excessivamente ativa, impulsiva e desatenta, com instabilidade psicomotora ou TDAH a depender do referencial epistemológico. É possível aliar os dois tratamentos para uma solução humana desse transtorno que atinge principalmente crianças em plena fase de desenvolvimento neuropsicomotor. Para tal, basta se constituir realmente os canais de diálogo entre os diversos saberes especialistas buscando a solução ideal para um problema real de multifatorial complexidade.

Para saber mais, entre em contato com:
Jakson C. Gama, CRP 19/001259, Psicólogo clínico especialista em Psicomotricidade pela Unifacs em convênio com o Centro Lydia Coriat (Porto Alegre/RS).

Bibliografia e Links da internet:
Quadrinho: "Crianças digam não às drogas (placa)" - "Já tomaram sua Ritalina hoje, crianças? (professora)" - "Sim!( Alunos)" - "Por que deixamos o governo drogar nossas crianças?" (Frase abaixo no quadrinho)} https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht2eoX8D6bFveSWDvciDCvhuxG-68PHXF0FE5Yq_wKy5Egb9d8raN-nQXQknR2nIbISddrEYiDxGtphZo2MWTz3Xo1fuUnJwhDgwKfjO48waNiImiSy1B14gQjP0im_5kWau0WU0Bg1pA/s1600/ritalina+1.jpg
2.      Idem;
3.      MORIN, Edgar. A Religação dos Saberes. Editora Bertrand Brasil.2001.
7.      LEVIN, Esteban. A Clínica Psicomotora: o corpo na linguagem. Editora Vozes. Petropólis, RJ.3ª ed. 2000, pg. 24.
8.      Idem, pg. 158.

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